terça-feira, 8 de setembro de 2015

Quem tem medo de se promover saúde?

A dieta paleo, ou paleolitica, foi idealizada pelo Dr. Loren Cordain, professor da Universidade do Colorado, baseando-se em um paradigma da evolução da espécie humana. Segundo Cordain, a dieta que trouxe o homem até os dias de hoje se baseia no período paleolítico, quando apenas caçávamos e colhíamos nosso alimento, portanto num período anterior ao advento da agricultura.

Assim, segundo o cientista, nossos genes "vencedores", que sobreviveram à seleção natural das espécies, não foram programados para consumir grãos, por exemplo. Estaríamos mais adaptados a digerir alimentos de origem animal (carnes e gordura) e vegetais (folhas, frutos e algumas raízes). 

Seu livro, The Paleo Diet, acabou se tornando um best-seller e hoje a Dieta Paleo é tratada por muitos meios de comunicação como a "a dieta do homem das cavernas" ou com mais uma "dieta da moda".

Recentemente, o programa Bem Estar da TV Globo caiu nessa esparrela. Cometendo vários erros conceiturais e induzindo a audiência ao engano, montou um cenário cheio de pedras lascadas, chifres e dentes, rodeando pedaços de carnes variadas para ilustrar a Dieta Paleo. Chegaram a dizer que alguns praticantes consomem carne crua. Mas isso é só a parte, diríamos, folclórica. O pior ainda estava por vir.

Um senhor de jaleco branco (segundo os créditos, um médico endocrinologista), auxiliado por uma animação computadorizada mostrava o "mecanismo" pelo qual a dieta paleo levava à perda de peso. Explicou rasamente a redução do consumo de carboidratos, o impacto disso no papel da insulina, no uso das gorduras como fonte de energia, mas afirmou categoricamente que a dieta levaria à perda de massa muscular. E que, por isso, não a recomendaria como opção saudável.

Notoriamente, o homem de jaleco (nem os produtores do programa) não leu o Dr. Cordain. Em suas obras, o pai da dieta paleo desencoraja o consumo de grãos e seus derivados (leia-se farinhas) e de açúcar adicionado aos alimentos, ao passo que estimula o consumo de produtos de origem animal (com exceção do leite) e de vegetais, com exceção de algumas raízes. Isso, automaticamente, reduz o consumo de carboidratos da dieta, principalmente se comparado à dieta ocidental padrão (consumo médio de 300 a 400g diários de carboidratos). Entretanto, em nenhum dos livros ele sugere que não se consuma carboidratos, ou que se consuma apenas proteínas e gorduras.

Ao virar a plaquinha que dizia "Perda de massa magra" para rechaçar a dieta paleo como opção saudável, o senhor do jaleco branco comete outro erro: qualquer dieta que não seja acompanhada de exercícios físicos leva à perda de massa muscular, mas estudos sérios mostram que essa perda é menor em dietas baixas em carboidratos do que em dietas baixas em gorduras. Não é opinião, é fato científico.

Mas o que leva um médico a afirmar, num programa de televisão na maior rede de comunicação do país, tantos erros? Falta de conhecimento, displicência, negligência, interesses comerciais? Por que se sujeita a desinformar sua audiência com tanta desonestidade intelectual?

Quem tem medo da dieta paleo?!

A quem interessa manter hábitos nocivos à população, vendendo-os como saudáveis?

A quem interessa a epidemia de obesidade e de tantas outras doenças crônicas do nosso tempo?

Quando o programa se intitula  Bem Estar e recomenda, por exemplo, a substituição de refeições por shakes, ou induz sua audiência a erros grotescos, não sei se espontâneos ou mal intencionados, eles se referem ao bem estar de quem?

Como diria aquele macaco, da mesma emissora, há muitos anos: não precisa explicar, eu só queria entender.



Um comentário:

Paula Educadora disse...

Pois é... Até mesmo eu, ainda tão leiga no assunto, fiquei assistindo e contestando o tal homem de jaleco branco... Lamentável, meu caro!